Esta sexta-feira, 12 de Outubro, o PCTP/MRPP organiza uma romagem de
sentida homenagem aos camaradas RIBEIRO SANTOS (assassinado a 12/10/1972
pelos esbirros da PIDE) e ALEXANDRINO DE SOUSA (assassinado a
09/10/1975 pelos social-fascistas da UDP).
Às 21h00 terá lugar uma sessão de Homenagem na Avenida do Brasil, 200 A.
Para aqueles que desconhecem o que se passou:
Alexandrino de Sousa:
Ribeiro Santos:
Porque Ribeiro Santos constituiu e constitui um exemplo para quantos o
conheceram e tiveram o privilégio de com ele privar e porque hoje alguns
querem fazer esquecer esse exemplo mas também porque a ele devo o
impulso decisivo para passar a militar activamente na Organização do
MRPP, esta é uma data que deve ser sempre recordada e por isso transcrevo aqui um texto meu publicado em Outubro de 2003:
“(...) pelas cinco da tarde, num anfiteatro do então denominado
Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais (hoje, ISEG),
um esbirro da PIDE de nome António Joaquim Gomes da Rocha assassinou a
tiro o jovem estudante de Direito, José António Ribeiro Santos.
Esse crime cobarde cujo autor ficou sempre impune, mesmo após o 25 de
Abril de 1974 (!) representou um dos últimos estertores do regime
fascista que, não obstante todo o seu arsenal repressivo, não mais
recuperou do profundo abalo que então viria a sofrer.
Na verdade, no
próprio dia do assassinato (uma 5ª feira), no dia seguinte e sobretudo
no dia do funeral (Sábado), em que a PIDE e a polícia de choque, à força
de bastonada, arrancaram a urna dos braços dos camaradas, colegas e
amigos de Ribeiro Santos para tentar levá-la à surrelfa para o cemitério
da Ajuda, toda a cidade de Lisboa foi sacudida por contínuas
manifestações de revolta contra aquele crime hediondo.
Recordo-me,
como se fosse hoje, de que logo a seguir ao almoço daquele Sábado
apanhei a carreira de autocarros nr. 27, que fazia então o percurso
entre o Apeadeiro do Areeiro e o Cemitério da Ajuda, passando
precisamente pelo Largo de Santos, onde Ribeiro Santos morava com os
pais e de onde estava previsto que partiria o funeral. O autocarro, que
começou a sua viagem praticamente vazio, foi-se enchendo sucessivamente
ao longo da mesma. Enchendo de homens e de mulheres, de jovens, de
adultos e de idosos que, trocando apenas olhares cúmplices entre si, se
faziam reciprocamente sentir que todos “sabiam ao que iam”.
Apesar de todas as ameaças feitas desde a antevéspera pelo Governo e de todo o aparato repressivo e policial então colocado por toda a cidade, mas muito em particular no Largo de Santos e no Cemitério da Ajuda, dezenas e dezenas de milhares de cidadãos anónimos acorreram ao apelo da luta pela Liberdade e pela Democracia, enfrentaram durante horas e horas a fio, corajosa e decididamente, as sucessivas cargas da polícia de choque, os tiros, os ataques com cães, e tornaram assim clara a sua firme disposição de acabar com um regime de ditadura e tirania que ao invés do que precisamente alguns oportunistas e derrotistas sempre pregavam não era invencível e que tinha afinal os dias contados.
Ribeiro Santos foi assassinado pela PIDE dentro de uma Universidade,
precisamente porque foi dos primeiros estudantes a lançar-se contra os
dois assassinos que, de arma pronta a disparar, haviam sido trazidos
pela Direcção do Instituto e por membros da própria Associação de
Estudantes de “Económicas” (!?), para o interior de uma reunião
estudantil (um meeting contra a repressão), sob o pretexto de virem
identificar um bufo que pouco tempo antes havia sido detectado e
manietado pelos mesmos estudantes.
Ribeiro Santos, que tombou varado pelas balas a escassos metros do local onde eu próprio me encontrava, era então um estudante do 4º ano de Direito, dirigente da respectiva Associação de Estudantes e militante da organização do MRPP para a juventude estudantil. Tendo tido o privilégio de o conhecer e de com ele privar, posso dizer que ele esteve sempre na primeira linha de combate em todas as lutas pela Liberdade e pela Democracia, contra a repressão e contra a guerra colonial. Por isso mesmo aliás já fora objecto de diversos processos e da aplicação de sanções disciplinares aplicadas pelo decrépito Conselho Escolar da nossa Faculdade (dirigida então pelo famigerado Professor Soares Martinez). Sempre simpático e afável no trato, pessoa culta e inteligente, permanentemente disponível para ajudar os mais novos e mais inexperientes, Ribeiro Santos era simultaneamente de uma firmeza inquebrantável na defesa dos princípios.
Quando
a luta aquecia, quando o combate se tornava mais duro – em 1972, a
Faculdade de Direito estava e não permanentemente cercada pela polícia de
choque, ocupada pelos tristemente célebres “gorilas” e transformada num
verdadeiro campo de concentração, e todo o País era varrido por uma
onda crescente de revolta contra a guerra colonial – Ribeiro Santos dava
sempre o primeiro passo em frente.
Fê-lo, uma vez mais, naquela tarde de 12 de Outubro de 1972 e pagou-o com a sua própria vida. Mas não foi em vão que o seu sangue correu! O regime que o assassinou caiu ano e meio depois. E a memória de Ribeiro Santos e do seu exemplo heróico continua de pedra e cal nos nossos corações.
Fê-lo, uma vez mais, naquela tarde de 12 de Outubro de 1972 e pagou-o com a sua própria vida. Mas não foi em vão que o seu sangue correu! O regime que o assassinou caiu ano e meio depois. E a memória de Ribeiro Santos e do seu exemplo heróico continua de pedra e cal nos nossos corações.
Hoje em dia, em que se
procura a todo o custo fazer apagar a nossa História recente e liquidar a
nossa memória colectiva, grande parte dos nossos jovens desconhecerão
ainda quem foi José António Ribeiro Santos, estudante universitário e
militante marxista-leninista assassinado pela PIDE em 12 de Outubro de
1972.
Mas essa é também e precisamente uma grande, uma enorme
responsabilidade nossa: a de não deixarmos que o pó do esquecimento se
abata sobre o que de mais importante existe nesse magnífico património
que são a nossa História e a nossa experiência, e de o transmitirmos às
gerações mais novas.
Um Povo sem memória e sem causas será sempre um Povo castrado, derrotado, tiranizado. E não há Poder algum, por mais despótico que se apresente, que seja invencível.
Um Povo sem memória e sem causas será sempre um Povo castrado, derrotado, tiranizado. E não há Poder algum, por mais despótico que se apresente, que seja invencível.
É, pois, procurando
dar também o meu contributo para a preservação dessa mesma memória
colectiva que aqui ergo a minha voz, arrancando ainda e uma vez mais do
fundo da minha alma o grito de “Honra a Ribeiro Santos!”.”
(Publicado in Fórum Culturas, nr. 16, em Outubro de 2003)
(Publicado in Fórum Culturas, nr. 16, em Outubro de 2003)
... Não deixaremos que as causas pelas quais lhes roubaram a vida sejam esquecidas nem mais beliscadas!!! Obrigada, jovens! Obrigada, Dr Garcia Pereira, por ter sempre presente os valores que moveram tantos e tantos a quem devemos o direito e a liberdade de podermos, entre outras coisas, falar, escrever, pensar...
ResponderEliminarObrigada por dar a conhecer!
ResponderEliminarObrigada por denunciar!
Obrigada pela luta que se tem que continuar!