Se a demissão de Sócrates foi uma magnífica vitória do Povo Português e se a sessão parlamentar de chumbo do PEC-IV foi uma derrota estrondosa da chamada Esquerda Parlamentar, que sempre se opôs ao derrube de Sócrates, e permitiu que a Direita tratasse de se apropriar daquela vitória, também é verdade que Cavaco deveria ter aceite logo a demissão e deve agora marcar rapidamente as eleições uma vez que o apodrecimento da situação apenas serve os interesses do seu Partido, o PSD, cada vez mais empenhado em deter uma maioria absoluta nas próximas eleições.
Mas há uma outra providência que deve ser tomada desde já, que se revela indispensável a uma correcta definição de medidas quanto à dívida soberana portuguesa e que é a realização de uma auditoria pelo Banco de Portugal à mesma dívida, para responder essencialmente a três perguntas: quanto, a quem e porquê se deve?
Ora Cavaco, com o apoio do PS, do PSD e do CDS, inviabilizou essa medida e assim impossibilitou o Povo Português não apenas de alcançar o conhecimento de quanto da tal dívida não deve ser paga pelos trabalhadores portugueses (por respeitar pura e simplesmente ao custo da gestão fraudulenta e da especulação financeira) como também de compreender que aquilo que constante e eufemisticamente se designa hoje de “os mercados” não passar afinal dos grandes bancos europeus, e em particular dos bancos alemães, que, com a compra da dívida pública portuguesa a juros absolutamente exorbitantes, se estão a encher à tripa forra à custa dos sacrifícios cada vez maiores do Povo Português!
Cavaco, Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas lá sabem porque é que trataram de impedir que os cidadãos portugueses tivessem acesso a essa informação e pudessem decidir o que é mais adequado aos seus interesses, do mesmo passo que esses mesmos responsáveis pela actual situação do País se apressaram a garantir, até parece que por escrito, que tudo farão para que os portugueses paguem aquilo que a senhora Merkel lhes ordenar!
Sacudir a canga que nos querem pôr ao pescoço passa, de forma cada vez mais clara, por sacudir também os respectivos donos!
Se a demissão do Sócrates "foi uma magnifica vitória do povo português" e neste caso, seria uma vitória contra as politicas de direita levadas a cabo pelo seu governo, com o APOIO do PSD E CDS, como é possível que no mesmo instante o povo "possa permitir" que essa direita, que sempre esteve contra si,se tenha apropriado dessa "Magnifica Vitória"?
ResponderEliminarA Chispa!
"A sessão parlamentar de chumbo do PEC IV foi uma estrondosa derrota da esquerda institucional" Também não é verdade na medida em que eles se opuseram ao PEC,aliás não podiam fazer outra coisa, como resultado da sua colaboração e conciliação com os PECs anteriores.
ResponderEliminarSe não se criar um forte movimento contra a ofensiva capitalista em curso, seja dirigida pelo PS ou por um outro governo ainda mais reaccionário como é previsivel, os grandes derrotados não serão o PCP e BE, como diz, mas o proletariado e o povo trabalhador.
A Chispa!
Meu caro,
ResponderEliminarJá lhe respondi às questões que aqui coloca numa resposta ao seu comentário no meu post http://garciapereira2009.blogspot.com/2011/03/socrates-na-rua-luta-do-povo-continua.html
E só quem não esteve desatento ou não quer compreender o que se passou na sessão parlamentar do PEC-IV é que pode pretender que o PCP e, sobretudo, o BE, não sofreram ali uma enorme derrota. Se um partido que se diz de esquerda não quer derrubar um ditador e um reaccionário como Sócrates e afinal, fugindo-lhe ao controlo, o Povo deita-o pela borda fora, é evidente que esse partido nada tem para dizer ao mesmo Povo.
Agora numa coisa estamos de acordo: é que a mobilização e a luta das massas tem de se manter e intensificar sob pena de somente se assistir à substituição do representante da contra-Revolução. Mas, por exemplo, deverá saber tão bem quanto eu que sindicatos da Intersindical, sob o "brilhante" argumento de que agora não há Governo e vêm aí eleições, começaram a procurar desconvocar e desmobilizar as greves, designadamente no sector dos transportes, que já estavam marcadas...
Vamos, pois, à (continuação da) Luta!
Caro G.Pereira
ResponderEliminarVocê não conseguiu provar a sua tese, ficou por demonstrar como o movimento de massas foi DETERMINANTE para a queda do Governo.
SOBRE O PCP e o BE
Se nós entendemos que os partidos da esquerda do sistema capitalista, representados no parlamento, não defendem os trabalhadores, então é natural que eles defendam outros interesses de classe, neste sentido não podem ser responsabilizados pela apropriação que a burguesia capitalista e seus partidos fizeram .
A burguesia apropriou-se porque tinha o caminho LIVRE, porque não houve nenhum movimento social de massas DETERMINANTE que o impedisse. Daí a sua VITÓRIA.
Quanto ao resto da sua resposta, penso que acabou por concordar comigo.
No final do seu comentário avança com uma proposta de constiutição de "Um Governo de Esquerda e Democrático". Não se importa de me esclarecer em que base ECONÓMICA e em que CLASSES este governo é proposto e sustentado.
Os meus cumprimentos
A Chispa!
Meu caro,
ResponderEliminarO PS desempenhou uma vez mais o papel de "limpar as cavalariças do poder", ou seja, aprovar as principais medidas pretendidas pelo grande capital mas que este muito provavelmente não estava em condições de fazer aplicar de imediato contra o Povo.
Uma vez aprovadas essas medidas e isolado e desmascarado o seu Governo aos olhos do Povo, Sócrates tornou-se, para a mesma grande burguesia, numa coisa imprestável, a necessitar de ser substituída logo que possível.
A chamada "crise" não é outra coisa senão um impasse entre a Revolução e a contra-Revolução, em que nenhuma delas tem forças para derrotar de forma decisiva a outra. E assim sendo, nenhuma contradição existe entre afirmar que a demissão de Sócrates foi (como efectivamente foi) uma grande vitória para o Povo Português e para a sua luta e, por outro lado, chamar a atenção para que a direita está agora a querer apropriar-se dessa vitória e a procurar resolver o referido impasse a seu favor.
Quanto à ideia de um "Governo Democrático e de esquerda", ela corporiza uma proposta de programa minimo, ou seja, de aliança dos operários com camadas intermédias da população (da pequena burguesia a sectores da média burguesia nacional) de combate ao grande capital financeiro e imperialista, assente, entre outras, em três ideias fundamentais: desenvolvimento da nossa capacidade produtiva através de um programa de fomento económico, combate ao desemprego e a defesa da independência nacional, propugnando a renegociação de todos os tratados da União Europeia que nos impedem de ser um País livre, independente e em pé de igualdade com os restantes e, no fundo, colocam os trabalhadores portugueses a encher os bolsos dos grandes bancos alemães.
Como é óbvio, não se trata do programa máximo, da Revolução e da tomada do poder, mas antes uma política de frente única em que a classe operária se alia a outras classes e camadas de classe para combater o inimigo comum que é grande capital financeiro e o imperialismo.
É por isso que, mais do que escolher pessoas deste ou daquele partido, se trata sobretudo de definir uma política verdadeiramente alternativa àquela que o pensamento dominante pretende fazer querer que é a única possível e que defende os interesses fundamentais do Povo Português.
Cumprimentos,
António Garcia Pereira
No meu entender, os argumentos do Dr Garcia Pereira, são bem fundamentados e refletem o momento da luta de classes que se trava na sociedade portuguesa pelo poder.
ResponderEliminarA agudização da luta de classes, levou a que a clivagem entre a burguesia e o proletariado transvazasse para a rua e trouxesse outras camadas de classe. As manifestações e greves, a começar pela Greve Geral de 24 de Novembro, foram um ímpeto pelo derrube do governo que tentava impor a ferro e fogo as medidas mais celeradas do grande capital, em especial o Alemão, como se veio a confirmar pelas recentes declarações da Srª Merkel. Só o reformismo, vulgo revisionismo, instalado nos sindicatos, levou a que a necessária tomada de consciência, por parte dos trabalhadores, da imposição de um governo democrático, e de esquerda, fosse desviada para objectivos mais recuados, como a simples convocação de eleições antecipadas. Ainda assim, sem aquele ímpeto de massas, embora sem um norte bem definido, não teria acontecido a queda deste governo nesta altura, mas manter-se-ia até a burguesia não precisar mais dele. Isto é, o governo teve de ser apeado porque o movimento de massas ousou enfrentar a burguesia, dizendo que não suportava mais a canga que este governo tentava impor. Esse movimento ainda não teve o discernimento para impor um governo próprio, mas a sua acção foi determinante para a queda deste.
ResponderEliminarCaro G.Pereira
ResponderEliminarVocê continua a não provar a sua tese,mas ainda assim vou-lhe dar mais alguns elementos para que possa reconsiderar a sua posição.
1º A rejeição do PEC IV,por si só, teve o MÉRITO e o EFEITO IMEDIATO de TRAVAR, os protestos em relação às medidas anteriores do PEC III.Hoje já só se fala no PEC IV,e assim sendo trata-se de uma batalha ganha pela burguesia.
2º O PEC IV foi rejeitado, mas o governo com o apoio do PSD e CDS está a implementar as suas medidas.
3º O PEC IV só foi derrotado e obrigou o governo a cair, porque o PSD entendia que as medidas nele contidas não eram as suficientes.
4ºO recente pedido de RESGATE financeiro que o governo foi OBRIGADO a pedir devido à pressão exercida pelos banqueiros portugueses,agências de conotação, e pela UE,constituí mais uma poderosa etapa da ofensiva capitalista sobre o proletariado e sobre todas as camadas pobres da população não assalariada.
5º Os dados revelados pelas sondagens (valendo o que valem, mas nunca deixando de se aproximar muito da realidade) continuam a beneficiar o conjunto dos partidos da grande burguesia, o PS,PSD,e CDS e a ser contrários aos interesses do proletariado e dos mais pobres da população e a serem bem demonstrativos que a burguesia ainda tem muito campo de manobra como resultado da correlação de forças lhe ser bastante favorável.
Em 6º lugar e a titulo de exemplo dou-lhe as lutas que se têm dado na Grécia.
Como sabe na Grécia o movimento de constetação à politica anti-social do governo capitalista grego, tem atingido proporções enormes, quando comparado com o nosso,mas mesmo assim ainda não foi suficientemente forte, nem conseguiu mobilizar as massas de milhões que são necessários para derrotar a politica do governo,nem sequer a sua radicalidade conseguiu fazer minimamente o governo recuar nas suas intenções.
Assim sendo e não tendo o nosso movimento de contestação à politica capitalista do governo ter atingido tal nivel de combatividade e radicalidade,nunca deixando de ser um movimento dirigido por politicas reformistas/pacifistas e espontaneistas como foi o caso de 12 d Março possa concluir que se obteu uma "estrondosa vitória".
Sobre o "Governo Democrático e de Esquerda"que propõe:Não lhe perguntei apenas, qual era o conjunto de classes sociais que sustentariam tal soloução governativa "Democrática", mas sim também qual era a base económica desse Governo,não respondeu e eu compreendo a dificuldade por se tratar de uma base económica burguesa/capitalista exploradora e contrária aos interesses de emancipação do proletariado.
Mas agora coloque-lhe outra questão,como vai ser possivel implementar tal solução? Por via eleitoral constitucional burguesa e pacifica ou por meios violentos?
Sendo por meios pacificos, penso que se trata de uma profunda ilusão reformista, social democrata em tudo idêntica às teses que o BE e o PCP defendem.
Se defender a violência como meio a utilizar,porque razão limitar essa via a uma fase intermédia burguesa e porque não se passa directamente ao assalto da fortaleza burguesa capitalista e se impõe a Ditadura do Proletariado? Porque razão o proletariado sendo a classe maioritária na sociedade portuguesa, tem que subordinar os seus interesses de emancipação e servir de TROPA de CHOQUE para garantir os interesses económicos da pequena e média burguesia capitalista.
Os meus cumprimentos
A Chispa!
JMLuz
Meu caro,
ResponderEliminarAntes de mais, não se trata de “teses” nem muito menos de convencer quem, manifestamente, não quer ser convencido.
O derrube do Governo de Sócrates foi, efectivamente, uma magnífica vitória do Povo Português para a qual contribuiu decisivamente a manifestação de 12 de Março – em cuja derrota apostaram muitos teóricos e analistas da nossa praça, incluindo alguns que se dizem de “esquerda” – e que demonstrou não apenas que um sector cada vez mais amplo da Juventude decidiu erguer-se em luta contra o sistema podre e caduco que a condena cada vez mais à exploração e à escravidão como também compreendeu que a sua luta é a luta mais geral do Povo Português, rejeitando claramente a natureza “geracional” que lhe pretenderam atribuir.
Sócrates representava a cabeça da contra-Revolução e o seu derrube, aliás imposto contra todos os partidos parlamentares, foi um êxito muito importante do ponto de vista dos operários e demais trabalhadores. Questão diversa desta, embora a ela ligada, é saber que classe ou classes conseguem influenciar e dirigir esse movimento de luta e de revolta. Salvo o devido respeito por outras opiniões, pretender que como os operários e demais elementos do Povo não conseguiram (ainda) tomar o Poder o dito derrube de Sócrates não seria uma vitória é que representa um desconhecimento do que é a luta de classes, mesmo que se a tenha na língua a todo o momento.
O mesmo se poder dizer da incompreensão acerca quer do completo fervilhar em que vive hoje a sociedade portuguesa quer da natureza de chamada crise política, que outra coisa não é que não seja um impasse em que cada uma das classes fundamentais da sociedade não consegue ter forças suficientes para derrotar de forma decisiva a outra.
É óbvio que se a situação que se vivesse fosse a de a grande maioria do Povo já não alimentar ilusões acerca da democracia parlamentar burguesa, estaríamos a um passo da Revolução. Mas sendo óbvio que não é essa a situação presente, é justo e é importante que a classe operária se alie com outras camadas intermédias da população, em particular a pequena burguesia e o sector democrático e patriótico da média burguesia para combater o inimigo principal nesta fase que é o imperialismo e o grande capital financeiro.
É por isso que, numa altura em que a direita, ou seja, os representantes desse grande capital financeiro e os sectores mais retrógrados e reaccionários da sociedade portuguesa se estão a unir para cair a pés juntos em cima do movimento operário e popular, a esquerda, ou seja, os operários, os camponeses e aqueles sectores da pequena e média burguesia, e as forças políticas que os procuram representar, tratem de se unir para formar um Governo com uma política de frente única que permita combater e derrotar a mesma direita e os grandes interesse monopolistas que ela representa e prossegue.
Uma vez mais, sustentar que como o programa desse Governo – que tenho designado de “democrático de esquerda” - não seria, como é óbvio, o programa máximo dos marxistas-leninistas, ou seja, a tomada do Poder pelas armas, então ele seria uma “ilusão reformista”, destinada a fazer do proletariado uma “tropa de choque” dos vários sectores da burguesia significa, sob uma capa “esquerdista”, não compreender o que é a luta política, não a travar verdadeiramente (sempre sob o “argumento” de que só com a Revolução é que os problemas do Povo se resolvem) e condenar, isso sim, os operários ao isolamento e à derrota.
Mas obviamente que não estou à espera que venha dizer que “provei” a minha teses ou que se convenceu com os meus argumentos. Pelo que acho melhor deixar que os outros leitores possam também exprimir as suas posições.
Cumprimentos,
António Garcia Pereira