terça-feira, 1 de março de 2011

UMA IMPARÁVEL VAGA DE PROTESTO EM MARCHA E UMA DESESPERADA CONTRA-INFORMAÇÃO

Assistiu-se ontem, segunda-feira, a mais uma lamentável exibição de contra-informação que foi o “Prós e Contras” alegadamente referente à situação actual dos jovens.

Desde logo, por ser um pseudo-debate para cujos intervenientes principais se convidou uma esmagadora maioria de “especialistas” de apenas um dos “lados”, ou seja, defensores do ideário neo-liberal.
Por tal razão, foi possível que não se ouvisse ali uma única voz crítica das teorias que são afinal as responsáveis pela situação dramática com que os jovens se vêem agora confrontados.
A razão disto é que, nas vésperas da realização da manifestação do próximo dia 12 de Março e já não sendo possível ignorar a sua dimensão e importância, se tratou, muito claramente, de procurar “esvaziar o balão” e desviá-lo a todo o transe dos seus objectivos – e é para isso que serve a televisão pública!...
Assim, sem que existisse uma única posição consequente que as desmontasse devidamente, lá vieram teorias como a de que “temos um mercado e uma legislação laboral demasiado rígidas e é por isso que há precariedade”, ou a de que “a grande contradição é entre aqueles que têm demasiados direitos e os que não têm direitos nenhuns e só podem adquirir alguns se os outros os perderem”, ou enfim a de que “quem agora entrar para o mercado de trabalho tem de aceitar ter “mobilidade” ou de ser “flexível”, tem de aceitar trabalhar em condições degradadas (porque mais vale ter um emprego precário do que não ter nenhum…) ou então tem de emigrar”, etc., etc., etc.!

Do mesmo passo que desesperadamente se procurou negar – eles lá sabem o porquê… - qualquer paralelismo com o papel de primeira linha da juventude nas lutas populares no Egipto e noutros países do Magrebe!

Mas afinal, e não obstante todas estas campanhas de contra-informação e de manipulação ideológica, a questão essencial permanece inalterada. E essa é que o modelo político e económico seguido pelo PS e pelo PSD nos últimos 35 anos consistiu, por um lado, em admitir e executar o papel de semi-colónia que a União Europeia, ou seja, os grandes interesses económico-financeiros em particular da Alemanha, lhe pretendem fixar, aceitando submissamente perder a nossa autonomia e independência e destruir o essencial da nossa capacidade produtiva na indústria, nos campos, nos mares e nas minas. E, por outro lado, na aposta taylorista em estratégias de competitividade assentes no trabalho intensivo, pouco qualificado, precário e mal pago (de que precisamente os contratos a prazo, os “recibos verdes” fraudulentos e os estágios não remunerados são instrumentos privilegiados).

Sem romper com este modelo, não será possível aos trabalhadores construírem um futuro mais justo e promissor.

Ora é essa ruptura – cada vez mais necessária e urgente e a que os jovens mostram aspirar de forma cada vez mais assumida – que estas manobras de manipulação afinal, procuram desesperadamente evitar.

Em vão, porém, porquanto a roda da História, muito em particular pela mão dos jovens, não anda para trás!...

E, claro, dia 12, lá estarei na Manifestação!

9 comentários:

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  2. Caro Carlos Miguel Sousa,

    Com o devido respeito, acho que tem um ponto de vista completamente errado. Se é inteiramente justa a revolta que os jovens sentem pela política que tem presidido aos destinos deste País e pelos partidos políticos que protagonizam essa política e são responsáveis pela grave situação em que eles se encontram, eu não me sinto de todo abrangido por essa posição e por essa crítica.

    E um cidadão que é dirigente de um partido político que não é responsável pela presente situação e que, pelo contrário, a tem procurado deunciar e combater com todas as suas forças, não pode nem deve ver-se amputado de qualquer dos seus direitos cívicos.

    Além disso, não vou apenas na qualidade de dirigente político - que tenho, que toda a gente conhece, que é inseparável da minha pessoa e que não meto para baixo do tapete - mas também como cidadão solidário com todas as lutas que considera justas e como pai de filhos que se encontram exactamente nesta situação precária e difícil.

    E estou certo que os jovens presentes na manifestação, e espero que sejam muitos e muitos, compreendem isso perfeitamente...

    Pense nisto. Não precisa de concordar comigo :) (mas por acaso até gostava muito que concordasse...)

    Um abraço,

    António Garcia Pereira

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  3. Dia 12 também lá estarei, embora considere o manifesto demasiado vazio e inócuo e já vá irritado por ter a certeza de que 80% a 90% dos manifestantes são fiéis eleitores dos PS e PSD que, votante nos mesmos de sempre, ainda acreditam em milagres.

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  4. Caro Skeptikos,

    Eu é que lhe agradeço a sua lúcida tomada de posição. Mas é preciso não desistir de combater o que é injusto e errado. Enganados estão aqueles que julgam que a submissão e a escravidão são para sempre!

    Saudações cordiais.

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  6. Caro Flávio Gonçalves,

    De facto é importante ter objectivos, os mais claros possíveis, e na situação presente creio que tais objectivos principais deveriam ser o derrube do Governo de Sócrates e a constituição de um Governo ao serviço do Povo com uma política que sirva verdadeiramente os interesses do País e de quem nele trabalha.

    Mas olhe que situações como a actual podem evoluir muito rapidamente e mesmo aqueles que se têm deixado enganar pelos partidos do poder podem, de um momento para o outro e a partir às vezes duma pequena fagulha, mudar de opinião, quebrar as grilhetas passar à luta com grande decisão.

    É nestas alturas que também se vê quem quer assumir a responsabilidade de dirigir estes combates para os levar a um resultado consequente e vitorioso e aqueles que primeiro os desvalorizam, porque não os conseguem controlar, e depois, à última hora, aparecem a procurar cavalgá-los apenas e tão só para tentar alcançar mais uns votos e, logo, mais uns lugares à mesa do orçamento.

    Mas para já é sobretudo importante participar na marcha e mobilizar o maior número de pessoas possível para tal.

    E começar a preparar o "day after".

    Saudações cordiais.

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  7. @Carlos Miguel Souza
    Cabe a cada um decidir a sua própria posição.


    @skeptikos
    Abordou metodos de "funcionamento" de grande empresas e corporações. E concordo com o que disse.
    Mas a raiz do problema, a meu ver, não é essa, mas sim a falencia das Micro e PMEs e da respectiva classe média. É esta que faz o ciclo da ecónomia girar.
    O mercado interno de Portugal está de rastos com a falencia da classe média. Só há 2 tipos de bens que se vende: bens essenciais e bens de luxo.

    Se você fosse um empreendedor com algum capital investiria em Portugal?
    Eu não o faria por muito que gostasse.
    Só há um tipo de empreendedor que o faria, aquele com falta de seriedade e com o intuito de explorar os trabalhadores e o sistema financeiro... porque, queiramos ou não, são os únicos atractivos em investir cá.

    Não quero dizer que não tenhamos Know-How, mas que qualquer pais da Europa também o possui. O que eu quero dizer é que nós não temos nada para nos diferenciar deles que seja positivo.

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  8. A maif. de 12 de Março entre outras coisas provou, (se é que os seus mentores queriam provar alguma coisa) que se pode fazer política sem os costumeiros de sempre, ou seja a partidarite do sistema. A nossa democracia é recente, temos ainda muito caminho a percorrer, os movimentos de cidadãos começam agora a dar os primeiros passos e, a meu ver, será por aqui que temos de ir, o Povo está farto, mais que farto dos jogos florais dos partidos do sistema e dos seus tiques burgueses. Temos de ser nós, organizados em movimentos populares de base que podemos dar a volta a isto.

    Abraço

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  9. Acho que tem razão e é precisamente por isso que todos os partidos parlamentares se sentiram incomodados com a manifestação e o que ela significava.

    Uma sociedade em que não são os cidadãos a tomar as grandes decisões, mas antes elites que não apenas não prestam contas ao Povo como até impuseram a ideia de que é legítimo prometer uma coisa aos eleitores e depois, uma vez apanhados os votos e chegados ao poder, podem fazer exactamente o oposto, não é, seguramente, uma Democracia para esse mesmo Povo.

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