terça-feira, 8 de setembro de 2009

Em campanha, na ADFA

Eram jovens, sonhadores, apaixonados. Tinham a vida toda pela frente. O regime fascista incorporou-os, meteu-os num barco que os levou para longe. Desembarcaram em terras estranhas e foram enviados para combater. Muitos não voltaram. Os que voltaram, vieram diferentes. Mutilados, traumatizados, cauterizados. Em vez de sonhos, passaram a ter pesadelos. Em vez de esperança, amargura.
Trinta e cinco anos depois do fim das guerras coloniais, os deficientes das Forças Armadas continuam em guerra. Com os seus pesadelos e contra o Estado português que, em muitíssimos casos, continua a não querer cumprir com todas as obrigações devidas a quem lutou por ele.


Hoje, ouvi de viva voz o drama de quem ainda não viu ser-lhe reconhecida a condição de antigo combatente ferido em campanha, como é o caso de muitos soldados africanos que lutaram pelo exército português ou o caso de milhares de compatriotas que sofrem de stress de guerra incapacitante e que andam anos e anos para conseguirem uma pensão de invalidez. E há os casos das viúvas que nunca trabalharam, porque se substituíram ao Estado no atendimento aos maridos inválidos e que, hoje, não têm um tostão por esse trabalho heróico nem uma pensão digna da Segurança Social.


Hoje, disseram-me que o país tem de ser solidário com estes antigos combatentes que deixaram pedaços do corpo e da alma em África. E ouvi contar sobre as dificuldades que estes velhos soldados têm de passar quando precisam de substituir próteses ou de lhes fazer algum tipo de manutenção. O Hospital Militar tem listas de espera de 1 ano…
Com a idade, as deficiências físicas adquirem ainda maior penosidade e muitos destes homens precisam de encontrar um lugar no Lar Militar, mas não há vagas. Parece que estamos à espera de que eles morram de velhice para nos livrarmos deste problema…


Ouvi tudo isto e sei que eles têm razão. Reconheço que a vida e a luta destas pessoas é um exemplo, pela tenacidade e pela justeza dos princípios que defendem. O problema deles é que a ideologia dominante na nossa sociedade é uma espécie de proclamação da lei da selva, onde só os jovens e fortes, os belos e saudáveis têm lugar e futuro. Os velhos, os pobres, os deficientes são atirados para um canto como coisas sem préstimo…



Por isso vos digo que, para mim, a luta da Associação dos Deficientes das Forças Armadas não só é justa como uma inspiração contra a prepotência dos insensíveis e dos arrogantes.
Hoje, foi mais um dia de aprendizagem.

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